Chamo Cultura Zen todo acervo de arte e ciência cuja finalidade seja inspirar e ensinar o caminho do autoconhecimento. Incontáveis obras e tradições neste sentido surgiram ao longo da evolução humana entre civilizações diferentes. Este caminho de autoconhecimento seja o único talvez, capaz de proporcionar diretamente uma harmonia social com verdadeiro fundamento.
Educação para meditação no Brasil
Era o ano de 2001 quando eu passava pelo centro da cidade em frente à livraria do Agostinho e pude ver um livro peculiar lá na prateleira giratória da editora Martin Claret: “Bhagavad Gita”.
Era um título indiano. Eu já o conhecia por intermédio da música Gita do Raul Seixas e Paulo Coelho. Aquela cuja letra diz “eu sou a luz das estrelas, eu sou a cor do luar…” De fato, tal canção foi inspirada neste mesmo livro e só para resumir, ele foi minha primeira aquisição, o primeiro volume, de minha biblioteca particular sobre filosofia oriental e afins que segue crescendo até hoje.
Depois do advento da internet pude pesquisar mais sobre o tradutor do Bhagavad Gita para o idioma português e me deparei com um filósofo, educador e teólogo brasileiro do mais alto nível e ainda hoje pouco lembrado.
Você conhece Huberto Rohden?
Primeira curiosidade é que a editora Martin Claret foi fundada no início da década de 70 especialmente para lançar os seus livros. Ele escreveu cerca de 65 títulos com uma abordagem espiritual, digamos assim, trazendo questões pertinentes a pedagogia, ciência e filosofia, enfatizando o autoconhecimento, a autoeducação e a auto realização.
Após graduar-se em ciências, filosofia e teologia pelas Universidades de Innsbruck (Áustria), Valkenburg (Holanda) e Nápoles (Itália), foi pesquisador na Universidade de Princeton (Estados Unidos), lecionou na American University, de Washington, D.C. (Estados Unidos) com a cátedra de Filosofia e Religiões Comparadas. Proferiu palestras nos Estados Unidos, Índia e Portugal.
Além do Bhagavad Gita, traduziu o clássico da sabedoria taoísta chinesa Tao Te Ching e o Novo Testamento a partir do original grego do primeiro século. Sempre preocupando-se em editá-los a preços populares, de modo a facilitar e democratizar o conhecimento.
“O mestre é um guia. O educador pode mostrar ao educando o caminho por onde o educando se pode auto-educar. Há muita confusão hoje em dia sobre a educação. Entre centenas de livros sobre a educação, mal encontrei um que possa aprovar integralmente. Alguns têm coisas boas, mas não frisam a coisa essencial que é a auto-educação”. – Huberto Rodhen (1893 São Ludgero SC – 1981)
Pioneirismo
O professor Rohden trouxe um elemento marcante na filosofia brasileira do século XX : o estudo da metafísica fundamentado na análise comparada de religiões e filosofias espiritualistas do Ocidente e do Oriente.
No meio acadêmico foi Propositor da Filosofia univérsica, que descreve o universo dividido em duas entidades, o UNO e o VERSO. Sendo o UNO causa primária e o VERSO manifestação do UNO.
Defende uma conexão do ser humano com a consciência coletiva do universo para, assim, florescer a essência divina do indivíduo. Este deve assumir as consequências dos seus atos e buscar a reforma íntima sem atribuir a autoridades externas o poder de sanar seus débitos morais.
Ou seja, ele já abordava temas que só a partir do final daquele século começariam a se tornar recorrentes na literatura acadêmica brasileira:
- a cidadania e a consciência
- a autoeducação como principal meio de auto iluminação;
- o autogoverno de acordo com a ética universal,
- a felicidade como exercício contínuo do autoconhecimento
Filosofia Não dualista
Todos esses conceitos abordados pelo professor certamente remetem aos seus estudos do “não dualismo”, ou “não dualidade”, que é a essência filosófica das antigas tradições orientais e neoplatônicas. Porém, mais essencial que todos os termos filosóficos é a prática da meditação.
“A meditação é um estado de consciência pura, sem conteúdo. Normalmente a consciência está muito cheia de atividade, parecida com um espelho coberto de poeira. Quando não há tráfego de pensamentos, a consciência está totalmente silenciosa, esse silêncio é meditação. E somente dele é que nasce a alegria, a saúde e toda a sabedoria”. – Chandra Mohan Jain
Podemos debater filosofia. É realmente um bom exercício. Mas o ponto é que há necessidade fundamental e imensamente ignorada de pausar a mente para descanso.
Meditação é para a mente como o tomar banho é para o corpo. As crianças podem sentir essa experiência de maneira lúdica e desenvolve-la com o passar dos anos. Esse é o objetivo do projeto Cultura Zen.
Cultura Zen Revolucionou toda sociedade de uma época
O movimento Zen no oriente no século VII foi um dos maiores fenômenos sociológicos registrados. Trouxe mudanças significativas em todos os setores da sociedade e consistia basicamente em trazer a meditação para o dia a dia das pessoas de todas as classes. Realmente foi um fenômeno bonito e raro que iniciou na Índia, cresceu na China e atingiu seu ápice no Japão. (Poderei trazer mais detalhes sobre o movimento Zen nos próximos posts). Em nossos dias atuais, cada vez mais cresce o número de praticantes de meditação no mundo inteiro. Para qualquer um que se dispõem a observar os dilemas contemporâneos do pensamento e do comportamento humano, ficará evidente a necessidade de sabermos um pouco mais sobre meditação. Essa arte que é a maior contribuição oriental para o mundo.
As possibilidades sempre estão no ar
O principal motivo pessoal de ter desenvolvido o projeto Cultura Zen é o fato de que, quando criança, eu costumava meditar no jardim, no quarto, no sofá da sala. Mas não fazia a menor ideia do que estava acontecendo! Mas me sentia bem ali quieto sem pensar em nada.
Na adolescência, porém, esse estado de ser pode vir a confundir a mente a ponto de se perder essa capacidade de interiorização para o resto da vida. Me fez falta uma orientação inicial. Ela veio, mas demorou. E veio por vias acidentais e definitivamente, não precisa ser assim. É preciso ensinar meditação de uma maneira natural, até porque ela é o nosso estado natural de ser.
O Cultura Zen tem sido aprimorado ao longo dos anos enquanto eu compartilhava com as pessoas o meu amor pelas antigas tradições de autoconhecimento e meditação. Música, poesia, arte gráfica e outros produtos online.
O projeto visa proporcionar às crianças contato com a meditação usando como material didático uma série especial de obras de arte que envolvem poesia, música, desenho e atividades educativas baseadas na obra Dunas de Algodão , de um modo que, no decorrer de seu desenvolvimento, poderão se lembrar de como é possível encontrar um estado de paz e alegria interior seja quais forem os desafios que a vida lhes trouxer.
Leandro Zen > escritor, compositor, produtor cultural
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