Todos conhecemos as pinturas de Van Gogh e sua importância na história da arte moderna. Mas você já reparou nos traços de cultura zen em suas obras? Isso deixa tudo ainda mais interessante!
“Ache belo tudo o que puder. A maioria das pessoas não acha belo o suficiente”
– Van Gogh
História do Zen no Japão
Vamos entender como essa ligação entre Van Gogh e Cultura Zen existe. Zen é uma escola budista alternativa – digamos assim. No final do século XII o Zen chega ao Japão provindo de uma longa jornada que nasceu na Índia e cresceu na China. Na sequência, duas escolas Zen desenvolveram-se no Japão: “Soto” nos monastérios e “Rinzai” entre os populares.
Para termos uma ideia do tamanho da influência Zen neste país, trago-lhes uma outra curiosidade: A escola Rinzai passou a ser muito popular entre os samurais. Estes sublimes guerreiros valorizaram o treinamento eficiente, adaptado para satisfazer as necessidades urgentes daqueles anos turbulentos. Sua coragem e a determinação fizeram deles discípulos Zen particularmente fortes. Este é um ótimo gancho para chamar a atenção das crianças à importância da meditação. Principalmente dos meninos que gostam de super-heróis e das meninas que se esforçam na dança.
Arte Zen
Todas formas de arte, no oriente como um todo, têm influência Zen, budista, taoísta… ou seja, resumidamente, influência de práticas meditativas. Muitos mestres Zen japoneses transmitiram os ensinamentos por meio de várias formas de expressão além da fala, visto que a fala nunca é o modo ideal. Além da presença de espírito, usava-se a cerimônia do chá, o jardim de pedras e a pintura.
A pintura Zen depende, sim, da compreensão do contexto da meditação, e ser um mestre Zen é ser capaz de passar a sabedoria do Zen sem palavras, mediante uma conexão desenvolvida em parte pela meditação.
Os monges japoneses com habilidades artísticas colocaram o Zen na arte, ou a arte no Zen, somando o ideal de meditar antes e durante a obra e depois sobre a mesma, e até ganhando dizeres poéticos.
Suas artes tradicionais foram tocadas pelo Zen durante séculos e desafiaram o próprio sentido do que é arte, e devido à sua grande difusão, influência e aceitação na sociedade japonesa, as artes japonesas são, em parte, generalizadas como sendo Zen.
Uma influência significativa
Se eu tivesse que escolher um ser humano para representar a humanidade num conselho intergaláctico escolheria o pintor holandês Vincent Van Gogh. Humano por excelência! Do angustiante transtorno mental ao mais sublime patamar de sensibilidade.
Van Gogh se sentia especialmente atraído pela arte ukiyo-e, as xilogravuras que se tornaram muito populares no Japão entre os séculos XVII e XIX. A partir delas Van Gogh inspirou suas técnicas, motivos e cores.Van Gogh e Hokusai compartilham uma conexão interessante através do impacto que a arte japonesa, especialmente o ukiyo-e que significa “imagens do mundo flutuante”. Os artistas deste estilo representavam a vida urbana, a cultura popular e o entretenimento do Japão da época.
Hokusai foi um dos grandes mestres do ukiyo-e. Suas obras, como “A grande onda de Kanagawa”, influenciaram o então chamado “Japonismo”, uma moda na Europa que incorporou elementos da arte japonesa em obras de artistas ocidentais. Van Gogh foi um dos artistas mais cativados pelo Japonismo; Estudou e colecionou gravuras japonesas e seu estilo passou a refletir suas características: cores planas, linhas contornadas e composições assimétricas.
Van Gogh chegou a fazer cópias de gravuras japonesas em diversas pinturas e desenhos, adaptando suas cores e formas ao seu estilo, como em sua obra “Ponte na chuva”, inspirada em uma gravura de Hiroshige, outro artista ukiyo-e. A simplicidade e naturalidade da arte japonesa ajudaram-no a desenvolver um estilo próprio, único e expressivo, cheio de cor e energia.
Portanto, sinto Van Gogh como um monge Zen. Ele elevou o patamar de sensibilidade de toda humanidade. Através de sua obra, o mistério do Zen encontrou um jeito de tocar as pessoas do mundo inteiro.
Leandro Zen> escritor, compositor, produtor cultural
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